sábado, outubro 14, 2006

A continuidade de cuidados...



A prestação continuada de cuidados é um elemento decisivo na prática de Medicina Familiar. O termo continuidade significa mais que duração, embora qualquer médico possa seguir um doente diabético da sua lista por mais de vinte anos… A continuidade na prática da medicina familiar significa responsabilidade para estar disponível de modo ininterrupto até ao fim para qualquer problema de saúde... O médico como é óbvio, não pode estar sempre disponível 24/ 24 horas nem pode prestar pessoalmente todos os tratamentos que o doente necessita mas é o primeiro responsável por se certificar que um substituto competente assegura a continuidade de cuidados, e deve acompanhar todos os cuidados que foram delegados num consultor, nomeadamente quando o envia aos cuidados hospitalares.
Os médicos não podem ser substituídos uns aos outros como peças de uma máquina… para o doente há uma distinção perfeita entre “o meu médico” - aquele que me conhece – e outro médico qualquer.
Muitos dos avanços da Medicina dão a ideia que o médico é realmente uma peça substituível… Nas grandes cidades com médicos de chamada, o doente pode ter de consultar um entre muitos, mas nenhum pode ter conhecimentos profundos sobre o seu estado... Quando recorre às urgências é visto por médicos que nunca o viram antes. e que com pouca probabilidade o voltarão a ver…
Estas mudanças aconteceram com o ir ao encontro da procura de serviços por parte do público… De um modo geral, o público dá mais valor à disponibilidade que à continuidade e em alguns casos os médicos de família tornaram-se tão inacessíveis aos seus doentes, muitas vezes por excesso de doentes a seu cargo, que os serviços alternativos tornam-se inevitáveis.
Não se pode culpar o publico por querer ter acesso rápido ao seu médico de família, mas para uma pessoa comum é menos óbvia a importância da prestação continuada a favor da disponibilidade... Em episódios breves de doença, um médico pode parecer tão bom como outro qualquer desde que resolva o problema... Uma mulher seguida desde o início da gravidez e que depois vai levar o seu filho às consultas de vigilância, ou uma pessoa com uma doença crónica, depressa descobrem que um médico não é igual a outro.
Para seguir continuadamente os seus doentes o médico não deve ter mais que 1500 doentes inscritos na sua lista. Esse número já foi estudado como o que melhor se adequa à prestação continuada de cuidados. Nas novas Unidades de Saúde Familiares a lista de utentes de cada médico não pode ultrapassar nunca os 1750 pacientes.
Não temos médicos de família em número suficiente para fazer a cobertura total do país... Faltam médicos de família, para atingir este ratio que é o regulamentado. As mudanças que se prevêem não passam de operações cosméticas que não resolvem os problemas de fundo do sistema de saúde...
O conhecimento do doente é um factor importante na relação médico doente. No questionário que decorreu de 24 a 30 de Setembro, dos 28 que responderam, 15 (54%) consideraram o factor mais importante nesta relação e 10 (36%) consideraram o mais importante o médico ser afável e empático, conforme o gráfico da figura ao lado.
BEIJOS A TODOS

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