terça-feira, novembro 14, 2006

Manifesto! (de uma prostituta)


A quem interessa
a saudade de minha alma
se a sombra de meus passos se perdeu
deixando-me abandonada
à ilusão da manhã
e à futilidade de novo dia…
Certa que o céu se cobrirá
de vermelhos matizados
tal qual meus braços
que derramam a seiva
da própria vida.
Qual o papel desta existência
carregada de dolorosas perdas,
alimentada pela mediocridade
ininterrupta de gestos
presos pelo preço
da liberdade insegura
de passos no vazio...
Dispara directo
sem medo do inferno
sem vacilar sequer
no valor da minha vida
massacrada pela ignominia!
Moedas de prata
que trocam minha alma
pela pobreza insensível
do desamor...
Vendo meu corpo e minha alma,
sem remorsos nem regateios,
a quem aceite caminhos desviados
abraços frustrados e beijos esquecidos.
Nem uma lágrima mais
derramarei por vós…
A minha voz se calará
e de meu corpo apagarei as carícias...
Ao entregar minha alma e meu corpo
deixei cair as asas do meu voo de mulher
tornando-me escrava e
amante de paixões reprimidas...

Homenagem a minha mãe que iniciou a sua vida profissional de enfermeira parteira na prestação de cuidados a prostitutas. Tem também a intenção de nos fazer reflectir na polémica discussão sobre a legalização da prostituição.
BEIJOS!

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